terça-feira, 16 de outubro de 2007

Camões


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Mania de não ficar quieto

Li na imprensa deste final-de-semana, mais especificamente na coluna do Claudemir Pereira do jornal A Razão, que um edil do partido da "estrela de camobi" declarou que na eleição do PT eles são "os Farroupilhas contra o Império". Não sei. Eu que normalmente o vejo com botas e bombachas tinindo de novas, acho que não parecem "farrapos". Se bem que tinha o Bento Gonçalves e outros estancieiros nas hostes farroupilhas. Deve ser por aí.

O Vermelho e o Negro - Da série "Livros que eu li"

Não é segredo que sou um apaixonado por literatura. Devoro livros diariamente. Tem uma expressão do Erico Veríssimo que versa mais ou menos o seguinte: Como o nosso tempo de vida é limitado, podemos roubar experiências e sensações daqueles que escreveram literatura.
Não consigo entender quem não lê. De certa forma, parecem-me pessoas incompletas.
Pois bem, esse livro do Sthendal conta a história do filho de um carpinteiro que tem grandes ambições. Sonha com o exército de Napoleão, mas quando o Imperador cai, vê-se obrigado a abraçar a batina. Na época, fora o exército, era a única forma de ascender socialmente. Sorel, esse é seu nome, passa a ser professor particular, ou preceptor, de jovens da burguesia e da aristocracia francesa. Sorel é um hipócrita, tanto na política, como nas relações amorosas.
Para quem não sabe, esse livro é o marco do começo do Realismo, escola que vê o mundo com uma aguçada análise psicológica dos personagens, e não poupa o idealismo, antes reinante, com uma perspicaz análise das motivações das ações humanas na sociedade. Nesses tempos bicudos, onde idealismo não vale muita coisa, é uma bela leitura.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Augusto dos Anjos

A esperança

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.
Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?
Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!
E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!

*Descansa seu Alcides.
** Pena. Ela estava bem preparada.

sábado, 6 de outubro de 2007

Leviatã


Descobri que além dos meus amigos mais gente lê o meu blog. Aproveitando essa descoberta vou publicar alguns posts de livros lidos que ajudaram a compor minha forma de pensar. Pretenciosamente, começo com o "Leviatã" de Thomas Hobbes. O nome do livro vem de um monstro bíblico, o Leviatã. Trata da organização da sociedade. Para o autor, o homem em "estado natural" desconhece as leis e a idéia de justiça. Todos tem direito a tudo, e para conseguirem usam a força e a astúcia. Essas atitudes teriam como consequência "a guerra de todos contra todos", que só poderia ser evitada realizando o "pacto social". Para quem gosta de política, é um livro fundamental, justamente por racionalizar a divisão entre a igreja e o estado. Como curiosidade, o desenhista Bil Waterson, deu o nome de "Hobbes" (na versão brasileira virou Haroldo) ao tigre do Calvin em homenagem ao autor do Leviatã.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Mãos dadas



Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

- Esse cara também é muito bom, tem futuro...

Saudades

Meu pai tem sido muito presente nos últimos dias.
Faz dez anos que ele deu o "peido-mestre" (expressão usada pelo Luciano em um texto dele escrito da época. Texto que me foi dado de presente e ainda me emociona muito toda a vez que releio). O Amir deixou vários ensinamentos, entre eles a importância da honra e da lealdade aos amigos. Nos últimos dias eu podia ter ficado quieto sobre vários temas, mas o Amir não deixou. Valeu pai.

Anjos ou Deuses


Anjos ou Deuses

Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
A visão perturbada de que acima
De nos e compelindo-nos
Agem outras presenças.

Como acima dos gados que há nos campos
O nosso esforço, que eles não compreendem,
Os coage e obriga
E eles não nos percebem,

Nossa vontade e o nosso pensamento
São as mãos pelas quais outros nos guiam
Para onde eles querem
E nós não desejamos.

FERNANDO PESSOA