quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

SAMPA


Esse texto está atrasado, mas como já tinha escrito, resolvi publicar.

Não. Não estive na Ipiranga com a Avenida São João. Mas estive em São Paulo. Fui gravar um material para a conclusão de mestrado do "cumpadre" Luciano.
E aqui cabe o primeiro comentário. O trabalho do Luciano versa basicamente sobre arte e direitos humanos (os interessados, perguntem à ele), e esse tema nos levou a conhece o JAMAC. O Jardim Miriam Arte Clube foi criado por, entre outros, Mônica Nador, artista plástica de muito sucesso na década de oitenta, que agora dedica-se a coordenar e ensinar jovens em condição de risco para trabalhar com arte. O que mais interessa e impressiona, não é propriamente o trabalho, que já é fantástico em si. O que impressiona é que a Mônica nos contou que desde que abandonou o trabalho "acadêmico", seus pares tratam essa nova expressão artística com os jovens como "menor", como "mal-acabada", como "artesanato". Faz tempo que comprendo a arte como forma de expressão. Não necessariamente contestadora ou bela, mas com propósitos inerentes à sua confecção. A expressão artística não pode, nem deve, ficar presa a academia, que via de regra, tem se mostrado bastante preconceituosa. Essa posição "acadêmica" sobre o trabalho da Mônica, simplesmente impede a compreensão de artístas como Alexander Calder, Krajberg e o Leí, apenas para ficar em três. O Leí, santa-mariense, que faleceu prematuramentente, sequer é reconhecido como artista por parte do curso de Artes Visuais da UFSM. Como se a arte necessitasse de um carimbo corroborativo. Enfim. Opiniões.
Esse papo artístico aí de cima, também serve para introduzir algumas experiências fabulosas para quem aprecia arte. Estive mo MASP e na Pinacoteca de São Paulo. Pude ver, bem de pertinho, várias obras de artistas que sempre tive vontade de conhecer. Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Hélio Oiticica, para ficar em alguns brasileiros. Mas a catarse acontece, tanto no MASP, quanto na Pinacoteca, quando as esculturas do Rodin ficam a milímetros do teu rosto, permitindo esquadrinhar cada músculo daquelas esculturas humanas. Impressionante, difícil descrever.
As artes plásticas sempre me fascinaram. Como apreciador, sempre busquei aprender sobre isso, conhecendo velhos e novos artistas. Mas quem me conhece, sabe que a minha praia é a palavra escrita. Escritores, leitura é o que mais me conquista e me convence. O museu da língua portuguesa na estação da luz, merecia uma semana de confinamento exclusico à ele. Um espetáculo. Sem falar no vídeo que é passado numa sala de projeção indescritível, tanto na tecnologia, na arquitetura e na qualidade técnica. Vou levar a Eloá lá. Vou sim.

domingo, 22 de novembro de 2009

Cineclubistas


Tive a oportunidade de participar de reuniões com cineclubistas. Como aquecimento ao Santa Maria Vídeo e Cinema, participantes de todo o país discutem a construção e efetivação de cineclubes para todo o Brasil. Para tentar entender, cineclubes são espaços democráticos onde se promove exibição de filmes que não atingem os cinemas comerciais. Promovem debates e discussões sobre filmes nacionais ou não, bem como a produção audiovisual no Brasil.

Considerando que vários realizadores audiovisuais são ou foram cineclubistas, incluindo aqui o Cassol, principal responsável pela existência do SMVC, é notória a importância desse grupo.

Feita a cautelar, cabe aqui algumas considerações absolutamente pessoais.

Me senti nas discussões do movimento estudantil do final da década de 80. Personalismos, sectarismos, incompreensões e ciúmes, são constantes na discussão. Pelo fato de reunir pessoas que são cineclubistas há milhares de anos, bem como alguns que acham-se donos do movimento, as vezes o debate parece interminável e incloncudente.

Surpreendentemente, quando se tem a impressão que foi uma péssima ideia reunir esse bando, parece que são tomados por uma espécie de fervor religioso onde se encontram na fé cineclubista. Decisões são tomadas, encaminhamentos dados, próximos encontros marcados, abraços distribuídos e soluções encontradas.

Vida longa ao movimento cineclubista. Seguirei acompanhado sua vida. Mas bem de longe.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Poemas

Nesses últimos dias, por diversos motivos, inclusive influenciado pela melancolia do Mauro e do Luciano, resolvi reler alguns poetas que fazia tempo que não visitava. De uma forma ou de outra, em momentos diferentes da minha existência, muito me influenciaram. Só para lembrar, segue um Maiakowski, um Leminski e um Baudelaire.

"DESPERTAR É PRECISO


Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite,

Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,

Já não podemos dizer nada."




ave a raiva desta noite a baita lasca fúria abrupta

louca besta vaca soltaruiva luz que contra o dia

tanto e tarde madrugastes

morra a calma desta tarde morra em ouro

enfim, mais seda a morte, essa fraude,

quando próspera

viva e morra sobretudo este dia, metal vil,

surdo, cego e mudo, nele tudo foi e, se ser foi tudo,

já nem tudo nem sei se vai saber a primavera

ou se um dia saberei que nem eu saber nem ser nem era"


"EMBRIAGUEM-SE


É preciso estar sempre embriagado.

Aí está: eis a única questão.

Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê?

Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.

Mas embriaguem-se.


E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".


Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."



Bela trinca.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Derretendo geada...

Terminar um relacionamento deve ser uma das cosas mais difíceis na vida de qualquer um. O carinho e o respeito, normalmente são substituídos por rancor e mágoas. Problemas que nunca fizeram parte da vida do casal, ou eram tratados de forma conjunta, tornam-se motivos para infinitas discussões sem propósito algum. Os dois lados, buscam um conforto em qualquer coisa. Seja ela negar o que está acontecendo, ou transferir as responsabilidades para o outro.
Depois de nove anos de convívio. Eu e a Juliana decidimos seguir caminhos diferentes. Cada um buscará sua forma de vida independente do outro.
Essa decisão conjunta porém, não tira o tempo que passamos juntos, tampouco o bem que cada um fez ao outro. De minha parte, a convivência com a Juliana me rejuvenesceu e me ensinou a conviver com uma personalidade artística, me proporcionou acompanhar o crescimento da Gabriella dos 5 ao 14 anos e a lidar com diferenças de origem. Além de vários momentos que ficarão marcados de forma indelével na minha memória. O que que fiz para a Juliana? Ela que avalie. Eu sei que cometi muitos erros e acertos.
Neste período delicado onde é fundamental a serenidade para acertar todas as coisas, combinamos que ninguém fala por nós. Os motivos são nossos e cabe tão somente a nós resolver nossos caminhos.
Para a Juliana, desejo a maior felicidade do mundo. Que encontre sempre na vida, pessoas dispostas a amá-la e respeitá-la, que nesse aspecto sei que não falhei. Para a Gabriella, a certeza que ela tem em mim um amigo, para o que der e vier.
Quanto a mim, a disposição de não desistir jamais da felicidade. Como diz o Munõz, "só os fracos desistem". Embora nesse momento de transição tudo seja meio difícil o sol vai sair. Inclusive, cheguei em casa esses dias, já de noite, e minha mãe perguntou como eu me sentia. Dramático como sempre, respondi que "me sentia triste como um campo coberto de geada", no que de pronto ela respondeu: "Então vai dormir e levanta cedo para sair no sol e derreter esta geada.".

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

1808


Ontem terminei a leitura do livro 1808 que conta a passagem da família real portuguesa pelo Brasil. Bom livro, bem escrito pelo jornalista Laurentino Gomes que narra com bastante qualidade toda a mudança acontecida no país neste período. Creio ser um livro de leitura obrigatória no ensino fundamental. E só.


Digo que é só, porque o livro me parece um grande apanhado bibliográfico das mais diversas informações dispersas sobre o assunto. As vezes tive a impressão de já ter lido aquela parte do livro em algum outro lugar, quase uma citação. Somado a isso, o estilo literário do escritor é por vezes formal demais, ou pior, "engraçadinho", bem ao estilo do manual de escrita da revista veja (minúsculas propositalmente), as vezes tratando o leitor como um ignorante contumaz, incapaz de tirar conclusões óbvias.


Apesar disso, quem tem pouco conhecimento sobre o período, o livro ajuda a entender muitas das características que o Brasil assume até hoje. Por outro lado, quem conhece aquela história, pouco se surpreenderá.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

De volta graças ao ganso Patola


Fazia tempo que eu queria voltar a escrever no blog, mas os assuntos que chamavam atenção naqueles momentos ou eram doloridos demais ou exigiam grandes explicações, coisa que não estava disposto a fazer.
Semana passada, vendo um programa do Discovery sobre a vida do ganso Patola, descobri nele, várias características comuns. Essas semelhanças, por algum motivo inexplicável, me levaram a voltar a escrever.
Entre as várias semelhanças entre o ganso Patola e eu, vale destacar duas visuais que são de grande valia. A primeira, a forma de andar. O ganso Patola caminha graciosamente com as duas patas apontadas para o lado, o famoso 10 para as duas. Como eu utilizo esse elegante caminhar, já nos encontramos aí. A segunda, e mais interessante ainda, é que o ganso Patola ao acordar, ao invés de alisar suas penas e colocá-las no "lugar", ele as dessarruma o máximo possível para não ficarem simétricas, atraindo assim as gansas Patolas pelo inusitado da obra. Tenho como característica pessoal vestir a primeira roupa que encontro no guarda-roupa, causando certas combinações imprevisíveis (diga-se de passagem, existem detratores que afirmam que eu faço isso por gosto, o que não é verdade), denotando mais uma semelhança com o também inusitado penoso.
Não contente nessas semelhanças "físicas", o ganso Patola tem um interesse constante pela sua gansa escolhida. Estabelecem uma união duradoura com sua gansa e não raro, passam a vida toda juntos. E mais importante: mesmo que não tenha gansinhos, o que é comum na espécie, ainda assim o casal se mantém unido e parceiro.
Não que eu queira chamar a Juliana de gansa, mas ela aceita todas essas minhas característica de Patola, e à ela só posso agradecer.