"DESPERTAR É PRECISO
Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.
Na segunda noite,
Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada."
ave a raiva desta noite a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca soltaruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes
morra a calma desta tarde morra em ouro
enfim, mais seda a morte, essa fraude,
quando próspera
viva e morra sobretudo este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo, nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei se vai saber a primavera
ou se um dia saberei que nem eu saber nem ser nem era"
"EMBRIAGUEM-SE
É preciso estar sempre embriagado.
Aí está: eis a única questão.
Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê?
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.
Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso".
Com vinho, poesia ou virtude, a escolher."
Bela trinca.
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