quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Bravata

A política tem entre as suas inerências, as previsões, as tentativas de antecipar fatos e/ou projetos. Isso faz dela uma ciência inexata, imprecisa. Estabelecer prazos para uma obra, cumprir acertos previamente estabelecidos são riscos corridos diariamente. Embora tenha sido constantemente surpreendido com posturas e posições de algumas autoridades políticas, não me considero um ingênuo nessa área e compreendo essas situações como inerentes mesmo (se não aceita, não participe!).Mas o que não aceito e não compreendo é a bravata. A bravata é um câncer da política brasileira, uma herança de caudilhos e ditadores. “Vamos trabalhar 24h para cumprir...”, como se quantidade fosse igual a qualidade; “Eu garanto que em 30 dias municipalizaremos...”, como se dependesse de uma pessoa; “Jamais vão cortar esse serviço, EU ajuizarei e impedirei...”, como se a justiça fosse previsível. E não faltariam exemplos em âmbito mundial, nacional e municipal. A bravata termina com a confiança, essa sim necessidade básica para o futuro político de qualquer um. Então senhores, limitem as bravatas nas suas relações pessoais, não as tornem públicas, sob pena de caírem no ridículo.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Às vezes entre a tormenta

Às vezes entre a tormenta,
quando já umedeceu,
raia uma nesga no céu,
com que a alma se alimenta.
E às vezes entre o torpor que não é tormenta da alma,
raia uma espécie de calma que não conhece o langor.
E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,
restam os versos que deito, vinho no copo do acaso.
Porque verdadeiramente sentir é tão complicado
que só andando enganado é que se crê que se sente.
Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Gramado

Terminou neste domingo o Festival de Cinema de Gramado. Foram muitas luzes, muitos flashes, muita tietagem, muitos atores globais. Ah, teve bons filmes também.
Infelizmente, os curta-metragens forma deslocados para a tarde. Esses mesmos curtas que, em várias edições, salvaram o festival.
Por tudo isso e muito mais: Vida longa ao Santa Maria Vídeo e Cinema.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Mais dos cansados


Esse é o cara que trabalha pro Cansei! Deve ganhar R$ 20 por dia e um misto frio! Esse sim podia falar: "Cansei do Cansei".
Fonte Zé Simão.

Cansei

Não pretendia comentar o movimento "cansado", mas torna-se impossível não dizer algumas coisas à tão brilhantes manifestantes:

1- Quando chegarem a manifestação, cuidado com os flanelinhas negros e pobres que tentarão cuidar dos seu carros importados;
2- Cuidado nas escadarias da Catedral da Sé, as vezes encontramos pedintes e mendigos ali colocados. Importante que não confundam com alguma peça teatral do Gerald Thomas, esses são de verdade.
3- Não consumam os alimentos comercializados em torno da praça, não são para estômagos delicados e acostumados com frois grass;
4- Já as mercadorias vendidas ali, podem comprar. As de Miami também vem da China;
5- Importante: O Hino Nacional será cantado em português. A versão em francês não ficou pronta.
6- Ao final do ato, será servido champagne à todos, bem como serão distribuidos Channel nº5 para tirar o gosto e o cheiro da pobreza.
7- Por fim, e não menos importante, aos manifestantes que ficaram chocados e impressionados com a realidade dura do Brasil, 100 analistas estarão de plantão na DASLU para atenderem a todos.

E para nós que conhecemos essa realidade desde o nascimento e lutamos contra ela com todas as nossas forças, inclusive botando LÁ um metalúrgico, pobre e sem dedo, no momento do minuto de silêncio, gritemos com toda a nossa força e indignação contra essa elite racista quer tem a coragem e o displante de debochar da nossa existência.

Crítica ou Golpismo

Eu ia escrever sobre isso, mas encontrei esse artigo do Mino Carta que vale a pena ser lido.

"João Ubaldo Ribeiro, em O Estado de S.Paulo de ontem, domingo, desqualifica “essa suspeita de golpismo”. O jornal, evidentemente, exulta, dá-lhe asas o aval da autoridade, da assinatura celebrada. O escritor refere-se às investidas da mídia nativa contra o governo, e afirma: “Não tem golpismo, tem é exercício do direito de crítica”. Não pretendo responder a João Ubaldo. Sustento, apenas, que uma coisa é a crítica, e outra é o golpismo. Sim, a crítica é direito de qualquer cidadão, assim como qualquer um tem o direito de professar suas crenças, agir conforme seus princípios e manifestar suas idéias. Eu sou bastante critico do governo, embora exposto a pecha diuturna de apaniguado do presidente Lula. Pecha? Pois é. E eu, não teria direito de achar bom o que outros dizem mal? Tenho, mas estou longe de entender que o governo se sai bem. CartaCapital apoiou a candidatura Lula em 2002 e 2006 por considerá-la melhor do que outras, e não deixou de apresentar as razões da escolha. Discordamos, porém, e irredutivelmente, da política econômica do governo. Condenamos a ambigüidade governista em relação aos transgênicos e a omissão de longos meses no que diz respeito ao apagão aéreo. Lamentamos a demissão de Waldir Pires do ministério da Defesa e fustigamos a vergonhosa retirada diante das pressões da Globo no caso da classificação indicativas dos programas de tevê. E desabridamente desconfiamos da ação de alguns ministros, como Helio Costa e Nelson Jobim, sem falar de Mangabeira Unger, empregado de Daniel Dantas. E não temos duvidas quanto ao fato de que o governo deveria abandonar ao seu destino o senador Renan Calheiros. E por aí afora. Isto, porém, é crítica, procedente ou não. Golpismo é outra coisa, é a sanha de precipitar uma crise, de qualquer proporção. Do irmão Vavá ao desastre da TAM. Sem hesitações ao testar hipóteses, conforme as lições do diretor da Rede Globo, Ali Kamel. Quer dizer, o golpista arrisca-se impávido à acusação falsa, quando não omite a verdade factual. Ou mente. E isto, a se considerar o País, sua zelite (como diz João Ubaldo Ribeiro) e suas tradições, é golpismo. Sinto muito, não existe palavra mais precisa. No finalmente, não perderei muito tempo para comentar o tom usado por editorialistas e colunistas ao encararem o presidente da República. É do conhecimento até do mundo mineral que o enxergam a trafegar entre a ignorância crassa e a megalomania crônica. Digo apenas que, aqui, adentramos ao gramado da ofensa grosseira, nascida do preconceito e adubada pelo ódio de classe."

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Livro

Em tempo. O título do livro citado no post abaixo é "A Publicidade é um cadáver que nos sorri". O autor é o italiano Oliviero Toscani. Vale a pena ler, ao menos para ver as fotos das peças da Benetton.

Propaganda

Optei pela profissão de publicitário muito cedo em minha vida. A publicidade, assim como a política, ensejava as criações, disputas, derrotas e vitórias inerentes à profissão. Ainda que acreditasse em uma visão “engajada” de publicidade, sabia que era um instrumento de venda. De qualquer venda. Ainda assim, buscava um diferencial na propaganda que me permitisse uma realização tanto profissional quanto pessoal. Tive a oportunidade de cursar a primeira turma de Publicidade e Propaganda da UNIJUI, incrivelmente romântica e irresponsável. Romântica porque buscava esse “novo tipo de propaganda”, ético e inovador. Irresponsável porque para a propaganda, ética é um conceito nebuloso e raro. De qualquer forma, no período acadêmico li um livro do responsável pela propaganda da Benetton, Oliviero Toscani. Os que tem mais de 25 anos (meu caso) talvez lembrem das polêmicas propagandas da Benetton, utilizando temas como a AIDS, a guerra da Iugoslávia, o racismo, a hipocrisia etc. Toscani provocava dizendo que a propaganda tinha que ter um papel inovador, informativo, polêmico e não vender falsas promessas de produtos milagrosos. E, mais importante, afirmava que as propagandas tinham o intuito de vender sim as roupas da empresa, mas se isso era possível ser feito trazendo benefícios para a sociedade, por que não? Claro, isso foi um sonho passageiro. Nem a Benetton manteve a linha de propaganda, nem ninguém mais ousou tanto.
Dito tudo isso, quero saudar a iniciativa da Rede Vivo de reinventar as sacolas de compras retornáveis. São menos algumas toneladas de plástico a poluir o meio-ambiente. Claro, antes que algum magoadinho de plantão diga, é evidente que isso visa uma melhor colocação da empresa no quesito responsabilidade social e aumentar suas vendas. Afinal e inicial é uma empresa. Mas porque não ganhar dinheiro e ainda reduzir um pouco as nossas mazelas do dia-a-dia. Por que não?

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Fernando Pessoa

Põe-me as mãos nos ombros...
Beija-me na fronte...
Minha vida é escombros,
A minha alma insonte.
Eu não sei por quê,
Meu desde onde venho,
Sou o ser que vê,
E vê tudo estranho.
Põe a tua mão
Sobre o meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.

Fernando Pessoa

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Os que choram

Não raro dividimos as pessoas em duas partes. Esquerda/direita, gremistas/colorados, contra/ a favor etc. Essa visão dicotômica é absolutamente inerente ao ser humano; uma necessidade de posicionamento, até mesmo de sobrevivência (o que diga o Duas-Caras). Mas essas divisões sempre me pareceram tênues (menos o Imortal Tricolor), divisões subjetivas e inconsequentes, válidas apenas para demarcar uma posição imediata (ressalva anterior). Na prática, sabemos que o dia-a-dia é uma sucessão de pequenas decisões com infinitas possibilidades. Essas podem nos levar as mais diversas consequências, que nos darão novas infinitas possibilidades e assim ad infinitum. Mas não é sobre a minha repulsa ao conceito de destino que eu quero falar. É sobre a simples dualidade do ser.
Numa conversa etílica com dois amigos, o Beto São Pedro e o Luciano Ribas (não por acaso tio e sobrinho) chegamos a conclusão que a principal e talvez a única divisão dualista que realmente vale a pena é a dos que choram e os que não choram. Dos que são capazes de emocionar-se com um filme, com uma música, com uma atitude; e dos que passam a vida vendo-a pela TV e, no máximo, vampirizando emoções dos outros.
Claro, nós somos dos que choram. Choramos com a deslealdade, com a traição, com a maldade, com o desperdício de vidas e também dos que desperdiçam suas almas no mais puro egoísmo. Choramos. Com orgulho.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Alan Kardec

Alan Kardec fundou na França uma filosofia que alguns chamam de religião, o Espiritismo. Uma filosofia que encontrou grande eco em alguns setores médios da sociedade, principalmente entre profissionais liberais. Embora hoje exista quase que tão somente no Brasil, inspirou muitas pessoas.
Para mim, ateu há muito tempo, a maior inspiração que esse homem causou, foi em um jovem casal que resolveu dar a seu filho o mesmo nome do pensador francês. Esse Alan Kardec, brasileiro, jogador do Vasco da Gama, terminou com a pretensão avícola colorada. Sendo responsável diretamente pelos dois gols sofridos por eles no "gigante do beira-lago". Embora o avícola deles tenha jogado bem, foi o avícola do Vasco quem ganhou o jogo. Por uma bela ironia, o melhor em campo foi Perdigão.