Às vezes entre a tormenta,
quando já umedeceu,
raia uma nesga no céu,
com que a alma se alimenta.
E às vezes entre o torpor que não é tormenta da alma,
raia uma espécie de calma que não conhece o langor.
E, quer num quer noutro caso,
como o mal feito está feito,
restam os versos que deito, vinho no copo do acaso.
Porque verdadeiramente sentir é tão complicado
que só andando enganado é que se crê que se sente.
Sofremos? Os versos pecam.
Mentimos? Os versos falham.
E tudo é chuvas que orvalham
folhas caídas que secam.
Fernando Pessoa
terça-feira, 28 de agosto de 2007
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